A nossa reunião na noite de 17 de fevereiro de 1955 foi
assinalada por verdadeiro regozijo. É que, através dos recursos psicofónicos do
médium, nosso grupo recebeu pela primeira vez a palavra direta do Instrutor
Espiritual Calderaro (1), cuja presença nos sensibilizou muitíssimo. Em sua
alocução aborda alguns apontamentos alusivos à nossa conduta espiritual durante
o sono físico, estudo esse que consideramos de real valor para a nossa
edificação.
De passagem por nosso templo, rogo vénia para ocupar-lhes
a atenção com alguns apontamentos ligeiros, em torno de nossas tarefas
habituais.
Dia e noite, no tempo, simbolizam existência e morte na
vida.
Não há morte libertadora sem existência edificante.
Não há noite proveitosa sem dia correto.
Vocês não ignoram que a atividade espiritual da alma encarnada
estende-se além do sono físico; no entanto, a invigilância e a
irresponsabilidade, à frente de nossos compromissos, geram em nosso prejuízo,
quando na Terra, as alucinações hipnogógicas, toda vez que nos confiamos ao repouso.
É natural que o dia mal vivido exija a noite mal
assimilada.
O espírito menos desperto para o serviço que lhe cabe,
certamente encontrará, quando desembaraçado da matéria densa, trabalho
imperioso de reparação a executar.
Por esse motivo, grande maioria de companheiros encarnados
gasta as horas de sono exclusivamente em esforço compulsório de reajuste.
Mas, se o aprendiz do bem atende à solução dos deveres que
a vigília lhe impõe, torna-se, como é justo, além do veículo físico, precioso
auxiliar nas realizações da Esfera Superior.
Convidamos, assim, a vocês, tanto quanto a outros amigos a
quem nossas palavras possam chegar, à tarefa preparatória do descanso noturno,
através do dia retamente aproveitado, a fim de que a noite constitua uma
província de reencontro das nossas almas, em valiosa conjugação de energias,
não somente a benefício de nossa experiência particular, mas também a favor dos
nossos irmãos que sofrem.
Muitas atividades podem ser desdobradas com a colaboração ativa
de quantos ainda se prendem ao instrumento carnal, principalmente na obra de
socorro aos enfermos que enxameiam por toda parte.
Vocês não desconhecem que quase todas as moléstias rotineiras
são doenças da ideia, centralizadas em coagulações de impulsos mentais, e
somente ideias renovadoras representam remédio decisivo.
Por ocasião do sono, é possível a ministração de amparo direto
e indireto às vítimas dos labirintos de culpa e das obsessões deploráveis, por
intermédio da transfusão de fluidos e de raios magnéticos, de emanações vitais
e de sugestões salvadoras que, na maior parte dos casos, somente os encarnados,
com a assistência da Vida Superior, podem doar a outros encarnados.
E benfeitores da Espiritualidade vivem a postos,
aguardando os enfermeiros de boa vontade, samaritanos da caridade espontânea,
que, superando inibições e obstáculos, se transformem em cooperadores
diligentes na extensão do bem.
Se vocês desejam partilhar semelhante concurso, dediquem
alguns momentos à oração, cada noite, antes do mergulho no refazimento
corpóreo.
Contudo, não basta a prece formulada só por só.
É indispensável que a oração tenha bases de eficiência no
dia bem aproveitado, com abstenção da irritabilidade, esforço em prol da
compreensão fraterna, deveres irrepreensivelmente atendidos, bons pensamentos,
respeito ao santuário do corpo, solidariedade e entendimento para com todos os irmãos
do caminho, e, sobretudo, com a calma que não chegue a ociosidade, com a
diligência que não atinja a demasiada preocupação, com a bondade que não se
torne exagero afetivo e com a retidão que não seja aspereza contundente.
Em suma, não prescindimos do equilíbrio que converta a
oração da noite numa força de introdução à espiritualidade enobrecida, porque,
através da meditação e da prece, o homem começa a criar a consciência nova que
o habilita a atuar dignamente fora do corpo adormecido.
Consagrem-se à iniciação a que nos referimos e estaremos
mais juntos.
É natural não venham a colher resultados, de imediato, nas
faixas mnemónicas da recordação, mas, pouco a pouco, nossos recursos associados
crescerão, oferecendo-nos mais alto sentido de integração com a vida verdadeira
e possibilitando-nos o avanço progressivo no rumo de mais amplas dimensões nos
domínios do Universo.
Aqui deixamos assinalada nossa lembrança que encerra
igualmente um apelo ao nosso trabalho mais intensivo na aplicação prática ao
ideal que abraçamos, porque a alma que se devota à reflexão e ao serviço, ao
discernimento e ao estudo, vence as inibições do sono fisiológico e, desde a Terra,
vive por antecipação na sublime imortalidade.
Calderaro
(1) Trata-se do Instrutor Espiritual a que se reporta André Luiz,
em seu livro “No Mundo Maior”. — Nota do organizador.