Irmãos:
Permaneçamos na paz de Nosso
Senhor Jesus.
O acicate das provações
necessárias fere o mundo.
O avanço da inteligência
moderna mais se assemelha a rude sarcasmo, tributando a Civilização com vexames
e calamidades de toda espécie.
O homem, efetivamente,
multiplicou os poderes da máquina que lhe soluciona variados problemas da luta
material, mas sofre o escárnio desse avanço, visto que o imenso progresso
industrial, que lhe assinala a experiência de agora, mais lhe destaca a
miserabilidade do espírito, acelerando-lhe a corrida para os desastres e crises
de toda ordem.
Registrando o apontamento, não
temos o gosto de manejar a picareta derrotista, nem somos profetas do
pessimismo ou da decadência.
Compreendemos o sofrimento
individual e coletivo como imposição natural e justa de que não nos é lícito
escapar, tanto quanto, na existência comum, ninguém foge ao serviço da limpeza,
se pretende evoluir ou preservar-se.
Não há tempestade sem
benefício, como não existe noite sem alvorada.
Desejamos apenas comentar com
os nossos irmãos de fé a necessidade de mais ampla assimilação do Evangelho em
nossas linhas de atividade.
O título de espírita,
atualmente, vale por cristão redivivo, envolvendo a inadiável obrigação de
socorro ao mundo.
E todos nós, que já recebemos,
por mercê do Senhor, o conhecimento da Justiça Divina, através da reencarnação,
e a certeza da imortalidade da alma, constituímos, em nome do Mestre, vasta
frente de servidores com o dever de ajudar a Humanidade que se debate no caos.
Para que estejamos, porém,
investidos do poder que semelhante mandato nos faculta, é indispensável, não
apenas pregar o evangelho, mas incorporá-lo a nós mesmos, para que a nossa vida
fale mais alto que as nossas palavras.
Nas vastidões obscuras das
esferas inferiores, choram os soldados que perderam inadvertidamente a
oportunidade da vitória. São aqueles companheiros nossos que transitaram no
luminoso carreiro da Doutrina, exigindo baixasse o Céu até eles, sem coragem para
o sacrifício de se elevarem até o Céu. Permutando valores eternos pelo prato de
lentilhas da facilidade humana, precipitaram-se no velho rochedo da desilusão,
a que se prendem pelo desespero e pelo arrependimento tardio.
E o grande conflito entre o bem
e o mal continua fragoroso e terrível, concitando-nos à humildade e ao
trabalho, ao amor e à renúncia.
Espíritas, irmãos de ideal, se
quiserdes o triunfo nas promessas que assinastes Mais Alto, antes de
empreenderdes a presente romagem no mundo, é preciso acordar para as
responsabilidades de viver e de crer, lutando destemerosamente na regeneração
de nós mesmos e no soerguimento moral da Terra!
Guardemos a provação por
bênção, o trabalho por alimento espiritual de cada dia, o obstáculo por medida
de nossa confiança, a fé por nosso incessante estímulo e a consciência
tranqüila por nosso melhor galardão.
A batalha neste século é
decisiva para nós, espiritistas e servidores da Boa-Nova, quinhoados com a
riqueza do conhecimento renovador! Aceitaremos o Cristo, libertando-nos
definitivamente das trevas, ou permaneceremos nas trevas, adiando
indefinidamente a nossa libertação com o Cristo.
Que Nossa Mãe Santíssima nos
proteja e nos abençoe.
António Luiz Sayão
(do livro "Vozes do Grande Além")